O primeiro livro de Samuel relata a história do profeta que ao envelhecer e ter filhos que não seguiram pelos seus caminhos, nomeou Saul – da tribo de Benjamim – como rei de Israel a pedido do povo hebreu. Não apenas rei, Saul foi o primeiro rei de Israel.
Dentre três príncipes e duas princesas, Jônatas foi o primogênito e sucessor natural ao trono de Israel. Entretanto o que mais chama atenção em sua história é a sua amizade com um pastor de ovelhas chamado Davi.
No início do capítulo 18 do primeiro livro de Samuel, o profeta relata que Jônatas o amava como à sua própria alma. Como se isso não bastasse, os dois fizeram uma aliança na qual o príncipe entregou sua capa, suas vestes, sua espada, seu arco e seu cinto a Davi.
Para entender melhor a dimensão desses fatos é necessário relembrar que Davi foi o oitavo filho de Jessé, leia-se caçula. Quando Samuel – o profeta – foi em sua casa para nomear o futuro rei, o pai de Davi nem o considerou para tal atribuição, visto que Davi estava pastoreando ovelhas no momento da visita do profeta. Enquanto os outros filhos estavam, digamos, de banho tomado e bem vestidos para o encontro e possível nomeação. O restante da história é possível que você conheça, o ponto é que se fosse em um futebol em uma rua qualquer, Davi seria aquele jogador não desejado que foi escolhido apenas para completar o time pelo dono da bola, no caso Jessé.
Mas o que uma capa representava naquela época? A resposta está logo adiante no segundo livro dos Reis, capítulo 2. Eliseu era uma espécie de profeta auxiliar de Elias. Acontece que quando Elias foi levado aos céus em meio a uma carruagem de fogo e redemoinhos, sua capa ficou com seu auxiliar. No verso seguinte, Eliseu dividiu as águas em dois lados e quando viram o que houve, os filhos dos profetas que ali estavam, disseram que o poder de Elias ficou com Eliseu. Mas afinal, o que ficou fisicamente com Eliseu? A capa de Elias.
Pois bem, recapitulando então temos o filho do primeiro rei de Israel entregando, ao seu amigo, aquilo que o identificava como príncipe de Israel. A capa de Jônatas, cheia de brasões reais, era seu bem mais precioso. Onde ele ia com aquele símbolo as pessoas o identificavam como o futuro rei. Esta foi uma atitude profética, pois nos anos seguintes Davi herdaria o trono após Saul desonrar a Deus e perder o direito ao cargo.
A amizade entre Jônatas e Davi nos faz compreender melhor a amizade entre Jesus e nós.
Em um outro exemplo sobre futebol é possível destacar aqueles times que, mesmo já não tendo chances de serem campeões, continuam jogando até o fim do campeonato. Eles têm um contrato, um compromisso com o restante dos times a não abandonar os jogos antes do final. Isso me remete a como Deus fez conosco.
O que um time perdedor tem a ver com Deus? Tem a ver que Deus perdeu quando enviou seu filho para morrer por nossos pecados. Se você concorda que Jesus nos perdoou precisa observar que a etimologia da palavra perdoar é composta por perder e se doar. Logo, se Jesus perdoou, ele perdeu e se doou por nós.
Deus não tem nada a perder pois Ele já nos perdoou sabendo que nós vamos pecar.
É o próprio Jesus que fala sobre perdão na parábola do filho pródigo. Em Lucas 15 acompanhamos a história de três pessoas. Um pai e dois filhos, onde um desses filhos pede sua parte em uma herança antecipada, sai da casa do pai e vai viver sua vida como bem entender. Acontece que em uma certa altura da história, o dinheiro acaba e ele se encontra sem amigos, moradia e nem mesmo comida. No verso de número 16 é destacado que ele pretendia encher seu estômago com as vagens que os porcos comiam.
Jesus era judeu e, possivelmente, estava contando uma parábola sobre pessoas judias a outras pessoas judias. Essa sugestão nos faz olhar para o filho pródigo como alguém que perdeu sua identidade. Judeus não podiam comer porcos – inimaginável seria comer junto com eles sua própria comida.
O filho pródigo perdeu tudo que havia de valor aos seus olhos, até não se reconhecer mais.
Mesmo assim enfrentou tudo o que passava em sua mente e decidiu voltar para casa. No verso de número 20 ele chega em casa e, quando foi avistado por seu pai, o viu correr em sua direção com abraços e beijos.
As vezes nós não conseguimos voltar. Não conseguimos enfrentar o que fizemos, as escolhas que tomamos ou até mesmo os caminhos que estamos trilhando. Nem sempre é o orgulho, pode ser a vergonha que fala mais alto. Ou pior, não nos sentimos perdoados.
Para quem não sabe, no dia 16 de Julho de 2021 eu me casei no civil com a Marina. Acordei no dia seguinte sem me sentir casado. Era muito recente, certo? Mas no papel eu estava em um matrimônio. Meu estado civil era casado. Não havia mais volta, a partir daquele momento éramos eu e Marina até o fim.
Não importa se nós não nos sentirmos perdoados, nós já fomos perdoados na cruz.
Todavia, há casos de pessoas que não se enquadram nesses exemplos. Nunca fizeram nada demais para se sentirem julgados. Não estão mergulhados em pornografia, não costumam mentir e nem mesmo roubaram sequer uma bala na vida. Só que, se tem uma coisa que nos afasta de Deus é a falta de relacionamento com ele. Na minha ainda breve vida de casado é possível supor que, se eu passar um dia sem conversar com minha esposa, as coisas não vão ficar legais entre nós.
A vida com Deus é uma subida. Só que estamos em uma escada rolante que está descendo.
Você já errou o lado da escada rolante? Não é incomum vermos crianças tentando subir no lado oposto do maquinário. Requer um esforço além do normal para vencer a soma da gravidade e a velocidade da escada rolante no sentido contrário. Assim é nossa vida com Deus, se não nos relacionarmos com Ele, nosso relacionamento inexiste.
Podemos concluir então que, quando Jônatas entrega a Davi aquilo que era seu bem mais valioso, antecipava a atitude que Deus teria conosco ao entregar seu próprio filho para morrer em nosso lugar. E essa aliança é atemporal – é um chamado a um relacionamento com Ele. Independente do que tenha acontecido, a reconciliação está acessível, pois o símbolo dessa reconciliação ilustrou através de uma parábola que, para alcançarmos o perdão, basta voltar ao pai. Quanto mais próximos estamos Dele, mais fácil será ouvi-lo nos chamar. Não deixe que as acusações tirem suas forças nesse retorno. Ainda há tempo para você.
2 comentários a “Algumas palavras sobre perdão”
Muito bom! Amo quando você escreve.
Dany Você conseguiu passar para exatamente como entendido aqui. Que a graça de Deus seja reconhecida por todos que olharem p Vc e sua casa ( família) Deus os abençoe com abundância de vida