Abraão teve um encontro com o Senhor, que lhe prometeu abençoá-lo. Contudo, ele desejava garantias de que isso realmente aconteceria, querendo assegurar-se de sua escolha entre os homens para ser abençoado e multiplicado – algo sem precedentes até então, uma prévia do que viria a ser o Reino de Deus.(Gênesis 15:8).
Sara, sua esposa, encontrou-se com o Senhor e ouviu a promessa de que teria um filho, mas riu, achando-se velha demais para ser mãe, duvidando da capacidade de Deus (Gênesis 18:12). Esta questão ressoa em Abraão quando Deus questiona se eles estão alinhados na fé, algo paralelo à situação do Éden, onde Deus interpelou Adão sobre suas vestes.
Em Lucas 1:5-25, o relato de Zacarias e Isabel mostra uma dinâmica similar:
Zacarias foi visitado por um anjo do Senhor, anunciando que Isabel conceberia um filho. Ele também buscava garantias de que isso realmente aconteceria (Lucas 1:18). No entanto, Deus já havia demonstrado sua suficiência ao realizar um milagre semelhante com Abraão. A diferença crucial é que Isabel, apesar de sua idade avançada, não tentou “ajudar a Deus”; ela aceitou a promessa e louvou ao Senhor.
Enquanto Zacarias questionava “se” isso aconteceria, Maria perguntou “como” isso aconteceria.
Essa distinção entre o “se” e o “como” é refletida em suas vidas após os encontros com o anjo: Maria cantou louvores (Lucas 1:46), enquanto Zacarias ficou mudo (Lucas 1:20).
A forma como respondemos ao Senhor e ao que Ele tem feito revela nossa compreensão do Reino de Deus. Ele escolheu dar à luz através de uma virgem e a pobre foi reconhecida como a mãe do grande Profeta e Rei da humanidade.
Cântico de Ana (1 Samuel 2:1-10) | Cântico de Maria (Lucas 1:46-55) |
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O arco dos fortes é quebrado, mas os fracos são revestidos de força; os que antes estavam fartos hoje trabalham pela comida, mas os que andavam famintos não têm mais fome. | Derrubou dos seus tronos os poderosos e exaltou os humildes; encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos; amparou Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia. |
Em Lucas 2, vemos mais desta inversão: o próprio Filho de Deus nasce numa manjedoura, filho de uma mãe adolescente, e é celebrado por pastores desconhecidos. Toda a história de Lucas é um testemunho dessa inversão, onde o Reino de Deus alcança lugares inesperados, pois Jesus veio para trazer salvação através da transformação da ordem do mundo.
Deus desafia nosso intelecto para revelar nosso coração. O povo judeu esperava um Salvador militar, alguém para destruir Roma. Um filho de carpinteiro não se encaixava nessa expectativa.
Israel cruzou o rio Jordão há muito tempo para herdar sua terra, com a responsabilidade de adorar um único Deus, amar o próximo e buscar justiça juntos, mas falhou repetidamente nisso.
João Batista convidou Israel a recomeçar, batizando-os no rio Jordão para o arrependimento e dedicação a Deus, preparando-os para a ação de Deus.
Ao iniciar seu ministério, Jesus foi batizado no Jordão. Quando saiu da água, os céus se abriram e uma voz declarou: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”.
Em seguida, Jesus passou 40 dias no deserto em jejum, ecoando os 40 anos da jornada de Israel pelo deserto, onde reclamaram e se rebelaram contra Deus. Enquanto Israel falhou, Jesus triunfou. Tentado, recusou usar sua divindade para benefício próprio, identificando-se com o sofrimento humano. Ele confiou plenamente em Deus e mostrou-se aquele que redimiria as falhas de Israel e da humanidade.
Jesus escolheu doze discípulos, não de forma aleatória, mas para simbolizar a redenção das doze tribos de Israel e formar uma nova comunidade. Lucas menciona o número doze doze vezes, lembrando a promessa de Deus de abençoar todas as nações através de Israel.
Inicialmente, esse novo Israel parece improvável: Jesus escolheu um grupo diverso, incluindo um ex-cobrador de impostos colaborador com a ocupação romana e um zelote rebelde contra ela. O amor de Deus pelos excluídos e pobres uniu essas pessoas improváveis, que deixaram diferenças para trás para seguir Jesus e viver em reconciliação na nova ordem mundial que ele inaugurou.
O Evangelho de Lucas revela essa nova ordem mundial nos ensinamentos de Jesus sobre o Reino de Deus, que vira tudo de cabeça para baixo (Mateus 5:3-12). Os discípulos são chamados a amar seus inimigos, ser generosos com os que não gostam deles, mostrar misericórdia e perdoar. Jesus não apenas ensinou, mas exemplificou esse estilo de vida radical, amando seus inimigos até o sacrifício de sua própria vida.
Em uma ocasião, durante um jantar, Jesus lavou os pés dos discípulos, um ato humilde que Pedro inicialmente recusou. Isso ilustra a inversão de valores que Cristo estava disposto a ensinar e morrer por.
Quando uma mulher humildemente lavou os pés de Jesus em uma festa, ele perdoou toda a sua vida. Ele está pronto para fazer o mesmo por todos nós.
Em Atos 16:24-40, vemos Deus abrindo as portas da prisão não para demonstrar poder, mas para alcançar corações. Este é o Reino de Deus de cabeça para baixo: a grande inversão, onde Jesus, gracioso e acessível, ultrapassa todas as barreiras para nos amar. Nem mesmo a morte ou prisões podem separar seu povo de seu amor.